Cresci ouvindo, em situações diversas, que “falar é fácil, fazer que é difícil”. E, por muito
tempo, nem questionei isso. Mas o próprio ato de não refletir sobre isso já
marca uma eficiência desse discurso de falar versus fazer. “Já que não posso fazer, não vou nem falar.” E isso
se repete, se repete... Quando (nem) nos damos conta, estamos falando para não
falar e já não falamos mais de nada, nem de nós, nem de... Desaparecemos em
meio aos pré-julgamentos (de quem?!)
porque não dá para falar, porque não posso falar, porque não é legítima a minha
fala. Falar o que mesmo?!
Resolvi, então, elencar
alguns motivos pelos quais falar não é fácil. E, digo, falar em primeira pessoa
é mais difícil ainda! Quantas vezes ouvimos em alguma aula de redação que
não podíamos escrever em primeira pessoa? “Ah! Não posso escrever em primeira
pessoa!” Não eu.
Continuo: falar é difícil
porque me posiciono, porque me mostro vulnerável, porque posso entrar num
combate ao invés de debate, porque na fala eu falho, porque é preciso ter
certeza para falar (dúvidas, muitas vezes, não são bem vistas), porque se você
fala, podem entender que você fala demais.
E falar demais é perigoso. A nossa História já nos mostrou muito eficazmente o
que acontece com as pessoas que falam demais.
E, talvez, seja por isso
também que em meus boletins escolares sempre recebi “excelente”, “ótimo” em
comportamento. Porque era quietinha, uma aluna exemplar. Aliás, nesse mesmo
espaço escolar, nos é ensinado que exercer a cidadania é cumprir com os deveres
e cobrar nossos direitos. Trabalho, pago os impostos, aluguel, comida etc. Mas para por aí! Pois cobrar nossos direitos e clamar por serviços de
melhor qualidade, exercidos por profissionais, isso já faz parte do falar
demais...
Durante um bom tempo,
parece que me foi muito mais compreensível entender o silêncio, os processos de
silenciamento. E (agora!) tem me interessado a fala. Sigo, então, certa de que posso
fal(h)ar.
Crônica publicada no meu perfil do Facebook, em 31/07/2018.
(:))
ResponderExcluirUm amigo poeta por aqui! Quanta honra!
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