Já disse o artista que na noite
não precisamos de luz elétrica para podermos ver na escuridão os brilhos das
estrelas.
O homem, uma mulher sabem disso,
mas diante da necessidade de ter que
expressar algo e registrar algumas divagações, a eletricidade torna-se uma
companheira ou cúmplice.
A luz também já queima, a bateria
do computador também acaba.
O sangue continua a percorrer as
veias, as artérias
A respiração leve e ofegante
O eclipse que neste momento aguardo não é
somente da lua, mas também o meu.
Relacionamento entre pessoas_
o viver, o conviver, o desejar, o
querer, o poder, o deixar, o levar.
Há um feixe de luz de uma lanterna
amarela,
que ainda insiste em mostrar minha
sombra,
um mini eclipse entre penumbras e
luzes num quarto de quatro paredes, uma janela e uma porta
(quantos quartos, salas, cozinhas e
banheiros agora ocupados
entre eclipses de pessoas que não
dormem por dor, opção e trabalho.)
Um contentamento de um ano que se
conclui e os breves dias que nos indica que outro chega e nos dá uma
confortante opção de que é hora de acordar,
como um chato despertador de
celular, que insiste em mostrar que somos regidos por um tempo que nos consome
e nos orienta
livres e abandonados
estamos nós diante de espelhos e
pessoas do cotidiano.
A pulsão da morte
é ainda um pouco do que quero
entender,
a morte certeira vem, nos abraça e
nos leva para passear um pouquinho
fica o conhecimento,
a frase não dita,
a visita não feita,
“Dura Lex, sed Lex”
O absurdo e o absoluto diante de
rostos pálidos, com comoventes lágrimas nos cantos dos olhos, que impertinentemente,
caem e traçam um risco na cara maquiada, o nariz vermelho, que começa a fazer
um barulhinho de inspiração, para que não escorra um líquido transparente de
leve sabor salgado,
e os óculos escuros... estes não
podem faltar
são eles nossos pára-choques
de olhares indiscretos, de
pedrinhas que voam num vento forte, muito forte,
a nossa discrição diante de
qualquer acontecimento protegida por uma lente escurecida,
que poderá também resguardar
qualquer expressão facial,
a depender da largura da haste, da
cor, do modelo.
Rostinhos modulados por tendências
Salários mínimos aplicados nos
mínimos prazeres empacotados,
de presentes de si para si,
entre bolsas, sandálias, blusas e
cadernos
E o ser amante que não faz bem ao
capitalismo consumista:
que perde a hora, não mostra
produtividade no expediente,
não come direito, não se apega aos
bens materiais,
que poderia largar tudo e mandar
todos se amarem também
[]
E esse homem foi despedido
e o ser amante foi-se embora
e depois de alguns meses
assegurado no desemprego,
viu que poderia passar fome,
vestiu-se , apressou-se e foi
buscar a lan house mais perto de casa para imprimir um currículo atualizado e
entregar numa nova firma.
Eclipses são também gritos da
natureza.
(numa noite de eclipse em 2010)
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