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Sensações que ficam


Passar em uma ponte
que balança

Passar em uma
    pinguela!

Forçar o estalar
dos dedos e do polegar...

Afundar a mão
em um pote de feijão*
no supermercado
*milho, lentilha, alpiste!

Acender sozinha a luz de
um quarto mal-assombrado

Esconder debaixo da
cama das visitas
estranhas que chegam

Cortar os vãos dos
dedos com o passar
das páginas de livro grosso.

Formar imagens com
os desenhos móveis
das nuvens.

Sentir o aroma
da boca do outro
sem tocar

Ouvir palavras desejadas
      no silêncio

---

(aqui meu muito obrigada a uma amiga de vozes, Lilian Fernandes, por ter me apresentado Amelie, numa tarde de 2007)

E os ecos continuam...



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Outras notas

Barbari(e)dade

     Na antiguidade, bárbaros eram os povos que não falavam a mesma língua dominante. O estrangeiro, o outro. Depois vemos esse sentido circular em torno daquele que não é civilizado, rude. Em tempos de pandemia, talvez retornemos a esse lugar: não estamos falando a mesma língua. Quase uma média de 1000 mortos por dia no Brasil em decorrência do Coronavírus e os discursos negacionistas circulando em plenitude. Circulando mesmo pelos corpos. Gente na praia, nos bares.      Uma barbaridade. O vírus pode realmente afetar tanto quem é jovem, com histórico de atleta, quanto pessoas com alguma comorbidade. Ou seja, podemos todos ser afetados por ele, o invisível e inaudível. No entanto, é fato também que o acesso e as formas de tratamento não são definitivamente os mesmos. Li relatos de pessoas que foram transferidas de helicópteros (com unidade móvel de UTI) do Nordeste para os melhores hospitais de São Paulo. Ouvi relatos de gente que pôde se isolar em casa ...

Vide bula

Das coincidências de uma tarde no Pronto Socorro: A enfermeira chama o senhor Sebastião. Um senhor e um rapaz, parecendo seu filho, se manifestam. Uma outra moça se levanta e diz que Sebastião é o pai dela.  A enfermeira, séria e com humor, pede para que eles não briguem pelo Sebastião. E qual o sobrenome? Sebastião Martins. Sorrisos. Ambos são Martins.  Risos ecoam naquela sala de medicação, em que entra paciente, sai paciente, recebem medicação na veia: soro, Tramal, Bromoprida. A ambiguidade se desfaz pelo terceiro nome. E aí, pai e filho entendem o porquê de não terem sido eles na primeira vez que ouviram o nome na sala de espera. Há dor de cabeça, no estômago, nas costas, dos nervos e do coração. Macas, cadeiras, acompanhantes à espera. Um outro senhor com cara e aspecto jovial também está na sala e reconhece um dos Sebastião. Se olham e se reconhecem. Foram criados juntos em um bairro ali da cidade. Sebastião já havia reconhecido o out...